A Netflix tem uma série extremamente cômica e odiada por parte da audiência e dos críticos: Love. Três temporadas. Duas pessoas completamente distintas, com cotidianos distintos, amigos loucos e extremamente próximos do amor. Sem roteiro. Sem amarras. Com vícios e uma narrativa completamente realista para o mundo ocidental. Se você já assistiu, vem comigo. Se não assistiu ainda e pretende ou já se relaciona com alguém, é hora de assistir.
Love tem dois personagens principais: Gus e Mickey. Explicar sobre eles é necessário para entender a série como um todo e o motivo deste texto reflexivo. Gus é um professor exclusivo para atores mirins e trabalha num trailer de um set de gravação. Mickey é uma produtora de rádio e trabalha em funções de apoio. Gus escrevia e queria ter sua própria série. Mickey só queria o dinheiro mesmo pra se sustentar.
O encontro deles começa num ato de gentileza. A série parecia ser romântica. Mas não é. É uma série realista. Dilemas. Problemas pessoais. Ela era viciada. Ele era codependente. Ambos tinham problemas com a família. Ambos não tinham uma história de vida tão repleta de sucessos. A vida amorosa de ambos era uma competição para saber qual dos dois era pior.
A série não poupa o palavreado comum na atualidade. Sinceros xingamentos. Mas também não poupa os raros momentos de romantismo que o casal tem. Não poupa os dilemas familiares e os desconfortos entre genros e noras e seus sogros e sogras. Também não poupa a graciosidade que alguns encontram. A série, por fim, dá um tapa na cara da mentira, mostrando que a verdade sobre os relacionamentos é a única face que pode ser vivida de forma integral.
No fim, Gus e Mickey fazem o inesperado: se casam. Entenderam a necessidade de se organizarem e de passarem a enfrentar os problemas juntos. Mas o que é melhor é que eles só tomaram essa decisão depois que entenderam, viveram e constataram que eram felizes sozinhos e que só teria a possibilidade de se relacionarem bem e duradouramente se estivessem completos e dispostos a acrescentarem ao invés de sugarem as forças um do outro.

Em Love, o amor é sem roteiro. Como é na vida comum. Shakespeare, em sua expressão máxima da capacidade de ver o mundo, não poupou Romeu e Julieta dos problemas familiares, do egoísmo, da desinformação (ou fake news, o termo mais recente) e das tentativas tresloucadas de unir duas pessoas. O autor de Love foi direto ao ponto: retratou altos e baixos, crises e recomeços, mentiras e perdões, verdades e arranhões, retratou o amor, na sua totalidade, no seu significado mais real, na capacidade de amar o outro “apesar de”.
Assista ao trailer e assista à série antes que ela saia do catálogo.
2 respostas em “Love e o amor sem roteiro”
Realmente essa séria uma série que passaria despercebida ao meus olhos em uma zapeada no catálogo da netflix. Mas agora depois da leitura e do trailer que confirma o que foi dito no texto, claramente entrará na minha (e da cremosa rs) lista de assistidas.
Que feliz comentário! Assista. Vai parecer chata de início. Vai ser entediante em alguns pontos. Mas o todo é uma ajuda firme para conseguir se relacionar com a verdade, acima de tudo.