É dezembro. O mês mais “família” que tem. Grupos de WhatsApp pipocam com mensagens em alusão ao Natal. Aquele parente de milionésimo grau aparece. Mensagens dizendo que você é especial, de gente que nunca deu “oi” para você, aparecem. Há mensagens, ligações, e-mails e abraços genuínos, mas eles se perdem na infinitude do que é falso, cópia, aparência.
Agora pega tudo isso e imagina que além disso tudo você tem uma pilha de coisas para serem concluídas porque sua coordenação ou chefia não quer encerrar o ano com pendências. Ao mesmo tempo em que se quer falar sobre o novo ano, ainda quer se falar sobre o ano que está terminando, às vezes até sobre anos passados. As pressões se multiplicam. O braço mais fraco da cadeia de trabalho, o funcionário mais operacional, sofre.
Ora, se com tudo isso não dá para começarmos a falar sobre saúde mental, ainda há um último argumento que, garanto, irá convencer você. O volume de dados aos quais estamos expostos diariamente só se multiplica. Nunca se produziu tantos dados, especialmente, aqueles que são coletados e produzidos através da internet. Essa superexposição significa menos qualidade na hora de se informar. Aldous Huxley, em 1932, previu que estaríamos com tanta informação, e principalmente tanto lixo, que acabaríamos por ser sucumbidos, perderíamos o controle de nós mesmos e do que consumimos.
Lucidez, paciência e análise sem pressa parecem ser atributos impossíveis de se reunir no corpo de meros mortais como nós. Trabalhadores perdem sua lucidez com a carga de trabalho, estudantes perdem sua paciência pela ansiedade imposta pelos períodos de provas, e até os idosos, aposentados, lactantes e outros que deveriam ter capacidade de analisar sem pressa e tomar suas decisões de forma cautelosa agora são levados a decidir sempre na velocidade da luz para tentar, ainda que sabendo do fracasso, acompanhar as evoluções.
Sobrevivemos até aqui. 2019 é o ano em que a pós-verdade deu suas caras no Brasil, mas não pela porta dos fundos, como antes. Agora, pela porta da frente de cada Ministério, Secretaria e até mesmo do Palácio do Planalto. A pós-verdade invadiu o Congresso. Até mesmo o Judiciário. Ora, a pós-verdade não é uma pessoa. Ela está na pessoa, no ser. A partir do momento em que o que “achamos, acreditamos, pensamos” é mais válido e verdadeiro do que o que é, de fato.
No fim de 2018, tive um início de Síndrome de Burnout – caracterizada pelo estado de fadiga total, geralmente ligada ao excesso de estresse motivado pelo trabalho. Graças à psicoterapia, por meses, reassumi o controle da minha vida e superei a Síndrome. De setembro para outubro de 2019, a estafa mental, estágio pré-Burnout bateu à porta. Tomei a decisão de mitigar os efeitos antes do problema evoluir, mas a tolerância ao estresse diminuiu. Isso é bom por um lado, mas péssimo por outro. Cuidar da saúde deveria ser apenas uma preocupação básica como comer ou beber, mas não é para a maioria de nós homens, que resistimos à procurar ajuda médica até que a bolha estoure e estejamos prestes a sucumbir.
Falar sobre fadiga mental em meses não alusivos à depressão, suicídio e outros males é tão importante quanto no Setembro Amarelo. Todo dia é dia de parar e pensar: o que estou fazendo, sentido, pensando hoje? Será que isso é bom para a minha saúde mental? Se você ao menos hesitou em falar um “sim”, é hora de refletir um pouquinho…
Se você quiser saber um pouco mais sobre fadiga mental, recomendo esse vídeo do canal do conhecido Dr. Drauzio Varella.