Existe um fenômeno chamado “decorar número de telefone celular” que é muito comum àqueles que estão apaixonados por alguém. Ou talvez seja algo que acontece só comigo. Me ajude a entender se é só comigo, dizendo nos comentários se isso já aconteceu com você.
Mas acontece sempre. Gostei de uma pessoa, trocamos os números de telefone e começamos a conversar. Dias depois, sei o número dela de cor. Isso promove um estrago grande: mesmo se algo der errado, você trocar de número, ficar sem celular, excluir contato, bloquear nas redes sociais, você não consegue apagar da sua mente aquele número. O resultado: você, nas suas recaídas, vai acabar mandando mensagem para aquela pessoa, sim.
Basicamente, isso ocorre comigo com mais facilidade porque minha memória é predominantemente fotográfica. E consequentemente, seletiva. Quanto mais emoção e sentimento atribuo a algo ou alguém, mais facilmente gravo as informações porque, em tese, me dedico a aprender detalhes e características dessa pessoa. Não digo que sei tudo sobre alguém, mas que facilita bastante ter uma memória assim, facilita.
Acredite se quiser, mas eu sei de cor telefones de pessoas que já superei, pessoas cujo não tenho mais contato. Como sei que não há esforço nenhum capaz de me fazer apagar esses números, me dedico a viver pra frente. Decorando novos números e me fodendo, quase sempre.
Que bom que você chegou até aqui. Porque agora vem uma importante colocação: nunca é culpa da pessoa-alvo, mas sempre de você mesmo. Que nutriu expectativas. Que não respeitou o tempo de tudo. Dói, mas é uma verdade. Ao me foder, descubro que foi “porque eu quis”.
Há uma música de Ana Caetano e Tiago Iorc, interpretada pela dupla Anavitória, que fala muito sobre o perigo de relações estabelecidas num patamar de ausência de reciprocidade. Quero compartilhar parte da letra dela com breves reflexões e, ao fim, o vídeo.
Encontrei descanso em você Me arquitetei Me desmontei Enxerguei verdade em você Me encaixei Verdade eu dei também Fui inteira e só pra você Eu confiei Nem despertei Silenciei meus olhos por você Me atirei Precipitei (...) Fiz de mim descanso pra você Te decorei, te precisei Tanto que esqueci de me querer Testemunhei o fim do que era agora (...) Eu que sempre quis acreditar Que sempre acreditei que tudo volta Nem me perguntei como voltar Nem porque
A mesma música que traz as razões da pessoa ter “se fodido”, também traz, após a pergunta “E agora?”, a resposta (psicologicamente correta) para tudo isso.
Agora eu quero ir Pra me reconhecer de volta Pra me reaprender E me apreender de novo Quero não desmanchar com teu sorriso bobo Quero me refazer Longe de você
Capa: VEVO Youtube/Reprodução