Poucas vezes há algo melhor a se fazer do que conversar para descobrir como uma pessoa pensa e age. É por isso que enxergo no diálogo uma ferramenta potente para celebrar o que há de melhor nos humanos e para iniciar descobertas que podem nunca mais parar.
Geralmente, quando falamos sobre o que queremos para nossas vidas, é uníssono o objetivo: felicidade. Queremos a felicidade porque nossa subsistência humana passa por toda a completude que a felicidade, devidamente nossa, significa.
Mas o que é felicidade? É possível ser feliz mesmo com a certeza de que, enquanto humanos, a queda, o desequilíbrio, a trepidez e o descaminho são frequentes e fazem parte da jornada? Eis a pergunta que, bem feita ou não, terá inúmeras respostas. Conceituar o que é felicidade é algo difícil, por isso, fazemos isso apenas para nós mesmos e tentamos reproduzir o que pensamos em palavras.
Numa das minhas cicloviagens, questionei a uma moça de 21 anos que conheci minutos antes, o que lhe era a felicidade, enquanto pedalávamos por alguns trechos da cidade. Com uma aparência tranquila e dona de um sorriso resiliente, ela trouxe uma das mais belas, maduras e concisas definições de felicidade que já ouvi: é ter maturidade para lidar com tudo que nos acontece.
Em outras palavras, o que aquela voz feminina tranquila transmitia era que a felicidade não era o destino, mas o processo, a felicidade não era a família que ela almeja ter nem tampouco a sua carreira profissional, mas sim ter maturidade suficiente para lidar com tais conquistas e, sobretudo, com o que acontece além e por meio delas.
A consciência de que, para além do conquistar, do ter, do existir, do fazer, é necessário também ser. E ser implica em como se toma decisões, em como se reage a situações adversas e também em como se celebra a vida boa, quando regada a alegrias. Felicidade, portanto, neste sentido encontrado pela jovem, encerra o desejo desenfreado de que a vida seja apenas equilíbrio.
Ao contrário disso, ela reconhece a queda e o desequilíbrio como parte da vida, ao desromantizar o sucesso e perceber que, entre outras coisas, há o fracasso, as tristezas e os momentos ruins em nossas vidas. Como afirmaria Sartre, filósofo existencialista: “não importa o que a vida fez de você, mas o que você fez do que a vida fez de você”.
Que entre o equilíbrio e a queda, encontremos as nossas felicidades.
Foto de capa: Luiz Gustavo Santos/Cedido